O crescimento do número de smartphones e a consequente demanda por dados móveis coloca uma pressão enorme sobre as redes existentes e suas capacidades. Para acomodar a demanda que cresce diariamente, uma hora nem o 4G/LTE vai ser mais suficiente – e olha que a capacidade já é bem superior ao 3G. Um passo à frente, de olho no futuro da banda larga móvel, uma nova tecnologia promete revolucionar as telecomunicações e trazer estabilidade e velocidade de fibra óptica para os dispositivos móveis; já imaginou?!
A tecnologia foi batizada de “pCell”; abreviatura para “célula pessoal”. A novidade foi anunciada por uma empresa norte-americana criada por um famoso inventor do Vale do Silício: Steve Perlman. Para quem nunca ouviu falar, ele se tornou famoso no mundo da tecnologia depois de vender sua empresa de TV na web para a Microsoft por meio bilhão de dólares. Perlman também foi um dos principais cientistas da Apple e ajudou a criar o QuickTime, tecnologia que trouxe o vídeo para o Macintosh.
Ele conversou com a gente, direto do seu laboratório, em San Francisco. E logo de início lembrou que atualmente as torres de redes celulares criam uma célula de cobertura ao seu redor; todas as pessoas que se conectam naquela região compartilham a capacidade daquela célula e, quando muita gente se aglomera por ali, a qualidade do sinal cai bastante e algumas pessoas ficam até impossibilitadas de usar o smartphone. Aliás, a gente explicou isso recentemente em uma reportagem sobre nosso precário 3G.
A nova tecnologia promete velocidade plena independente do número de usuários próximos uns dos outros; segundo Steve, seria a solução para os congestionamentos de rede e também áreas de sombras existentes hoje. Na tecnologia pCell, um algoritmo complexo produz uma área de cobertura única com um centímetro de diâmetro para cada telefone celular, permitindo assim que o usuário tenha acesso à capacidade total da rede em vez de dividi-la. Esta bolha de um único sinal acompanha o usuário onde quer que ele vá sem perder qualidade.
Interessante também é que a tecnologia “pCell”, pela primeira vez, trabalha com a interferência a seu favor contrariando anos de ciência e matemática. Diferentes das torres de redes móveis, que operam independentes uma das outras para que não haja qualquer interferência que possa prejudicar a qualidade do sinal, na pCell a interferência é utilizada para combinar as ondas de rádio e formar ondas ainda mais fortes. O fenômeno pode ser comparado ao ato de deixar cair duas pedras em uma lagoa; cada uma cria ondas circulares que se espalham pela água e, em certos pontos, essas ondas se combinam criando uma onda ainda mais forte.
Para se ter uma ideia da experiência que teríamos com a nova tecnologia, imagine que você estivesse sozinho na sua cidade, no centro da área de cobertura da principal torre de rede móvel. Assim, você atingiria a velocidade máxima disponível por aquela célula. Mas como nunca estamos sozinhos, nós sempre compartilhamos essa capacidade.
Em uma apresentação na Universidade de Columbia, Perlman demonstrou a transmissão streaming de vídeos 4K simultânea em oito iPhones usando a rede móvel pCell. Segundo o inventor, com a nova tecnologia poderemos assistir e transmitir muito vídeo em altíssima definição sem qualquer travamento e de onde estivermos; e até fazer coisa que sequer sonhamos com os smartphones. Segundo ele, com a pCell, a ideia é pensar na banda larga móvel como pensamos no Wi-Fi atualmente.
Apesar da badalação, a tecnologia ainda está um pouco longe de se tornar realidade. A empresa tem desafios grandes pela frente. Depois de demonstrar o funcionamento da pCell fora de ambientes controlados, o time de Steve terá de convencer as operadoras de telefonia móvel que sua tecnologia vale a pena os bilhões de dólares que seriam necessário para construir novas estações de radiobase e uma infraestrutura maciça de computação na nuvem.
Por outro lado, Steve afirma que a instalação de cada rádio “pWave” custa um décimo do valor da instalação de uma torre celular. Mais do que isso, segundo ele, é possível inclusive usar a mesma infraestrutura de antenas para colocar os rádios. Assim, completa, as operadoras poderiam inclusive cobrar menos por um serviço infinitamente superior. E mais: para uma mesma área de cobertura, são necessárias menos antenas “pWave” do que as tradicionais.
Steve também conta que está empolgado com a procura por novidades sobre a pCell. Ele nos contou que metade das grandes operadoras mundiais – inclusive algumas empresas brasileiras – já os procuraram para conversar e até começar a negociar. Segundo o inventor da nova tecnologia, há inclusive países que cogitaram a ideia de pular o LTE/4G e evoluir direto suas redes 3G para a pCell.
Outra característica muito interessante da tecnologia pCell é que ela é bastante amigável e totalmente compatível com o 4G/LTE. Além de proporcionar melhor qualidade de serviço, ela funcionaria com dispositivos já existentes. Steve diz que a pCell verticalizou a banda larga móvel e, além do 4G, está pronta para operar com qualquer outra tecnologia que venha a surgir.
Bom, você deve estar aí se perguntando: será que eu vou estar vivo pra ver tudo isso?
Os testes definitivos estão previstos para o final deste ano, em San Francisco e... de repente, pode estar disponível para uso comercial já em 2015. Uma esperança e tanto para quem ainda sofre com gargalos e engasgos do 3G... e até para quem já navega em 4G.